quinta-feira, janeiro 24, 2008

Certezas, Precisam-se


Preciso urgentemente de adquirir meia dúzia de valores absolutos,
inexpugnáveis e impenetráveis,
firmes e surdos como rochedos.

Preciso urgentemente de adquirir certezas,
certezas inabaláveis, imensas certezas, montes de certezas,
certezas a propósito de tudo e de nada,
afirmadas com autoridade, em voz alta para que todos oiçam,
com desassombro, com ênfase, com dignidade,
acompanhadas de perfurantes censuras no olhar carregado, oblíquo.

Preciso urgentemente de ter razão,
de ter imensas razões, montes de razões,
de eu próprio me instituir em razão.
Ser razão!
Dar um soco furibundo e convicto no tampo da mesa
e espadanar razões nas ventas da assistência.

Preciso urgentemente de ter convicções profundas,
argumentos decisivos,
ideias feitas à altura das circunstâncias.
Preciso de correr convictamente ao encontro de qualquer coisa,
de gritar, de berrar, de ter apoplexias sagradasem
defesa dessa coisa.

Preciso de considerar imbecis todos os que tiverem
opiniões diferentes da minha,
de os mandar, sem rebuço, para o diabo que os carregue,
de os prejudicar, sem remorsos, de todas as maneiras possíveis,
de lhes tapar a boca,
de lhes cortar as frases no meio,
de lhes virar as costas ostensivamente.
Preciso de ter amigos da mesma cor, caras unhacas,
que me dêem palmadinhas nas costas,
que me chamem pá e me façam brindes
em almoços de camaradagem.
Preciso de me acocorar à volta da mesa do café,
e resolver os problemas sociais
entre ruidosos alívios de expectoração.
Preciso de encher o peito e cantar loas,
e enrouquecer a dar vivas,
de atirar o chapéu ao ar,
de saber de cor as frequências dos emissores.
O que tudo são símbolos e sinais de certezas.
Certezas!
Imensas certezas! Montes de certezas!
Pirinéus, Urais, Himalaias de certezas!

António Gedeão

5 comentários:

yo disse...

Mas de quem duvidas tu, afinal? Dos que as te não dão, ou de ti, que as não almejas?

Tens tudo isso, e a dúvida será outra:
- m&m?

nana disse...

urgentemente....


tanto
e mais.







..

Anónimo disse...

Eu escolho
um homem
que não duvide
de minha coragem
que não
me acredite
inocente
que tenha
a coragem
de me tratar como
uma mulher.

Anais Nin

Anónimo disse...

O amor nunca morre de morte natural. Ele morre porque nós não sabemos como renovar a sua fonte. Morre de cegueira e dos erros e das traições . Morre de doença e das feridas; morre de exaustão, das devastações, da falta de brilho.

Anais Nin

Anónimo disse...

AMESTERDÃO
have big fun
[Adolfo Luxúria Canibal / Miguel Pedro]

Amsterdam. Have big fun. Have big fun. Have big fun.
Entrei no Amstel a toda a velocidade e quase abalroei um barco-táxi que ia a passar. O piloto ficou a mandar vir de punho erguido, mas eu continuei no máximo de aceleração Amstel abaixo. Adoro sentir o vento frio na cara.
Junto ao Munt Plein acostei e fui dar uma olhada ao catálogo do Big Fun. Tinham Black Bombaim. Comprei 2 pacotes e enrolei um joint a acompanhar o café. Depois meti-me no barco e rumei à Red Light. Apetecia-me sexo ao vivo. Pelas ruas que ladeiam o canal, a multidão, vagarosa, espreitava as raparigas nas montras. Acostei frente ao Jimmy's ouvindo o jazz melancólico que vinha da cave, e entrei no Barbie. Estava quase vazio. No palco-aquário um casal iniciava um número de sexo. O homem, de mãos atadas, tinha uma corda à volta do pescoço, que a mulher ia apertando com o crescendo da excitação - morreu enforcado no momento do orgasmo. Gostei da representação. Enrolei outro joint e saí. Cá fora a multidão continuava a sua passeata mironante e quase fui atropelado por um ciclista. Meti-me no barco e regressei a casa. A toda a velocidade.
Have big fun. Have big fun. Have big fun. Have big fun.