Nos becos bêbados A fé sem rumo, No tronco trêmulo, Sem sombra e prumo, Findou-se o fruto. O fogo inútil Perdeu a chama.
No estrado cama O amor foi fúria Porque desespero. No quarto abrigo O calor amigo fugiu nas frestas.
Só tu, cantor em festa, Cantas o dia, mesmo sendo escuro, A rubra crista é leme erguido Buscando sempre o nascente Em fogo.
Em teu capote de luz e plumas, Sobre a flor sem pétalas E a esperança morta, Teu canto é chama, Chamado e brado, Teu canto é trado Furando escuros.
Ensinou-te o tempo Pelo tempo a fora Que toda noite Tem uma aurora. Que todo pranto Vai regar o riso.
Ensinou-te a vida Pela vida a fora Que em toda treva Há um esperar de luz, Que em toda semente morta Há sempre um tronco A renascer no chão.
Por isso cantas E teu canto explode Sobre a flor sem pétalas E o riso decepado, As pústulas sangrentas, Os pulmões brocados, Sobre a fome e a lama. Teu canto é chama Queimando trevas.
1 comentário:
Nos becos bêbados
A fé sem rumo,
No tronco trêmulo,
Sem sombra e prumo,
Findou-se o fruto.
O fogo inútil
Perdeu a chama.
No estrado cama
O amor foi fúria
Porque desespero.
No quarto abrigo
O calor amigo
fugiu nas frestas.
Só tu, cantor em festa,
Cantas o dia, mesmo sendo escuro,
A rubra crista é leme erguido
Buscando sempre o nascente
Em fogo.
Em teu capote de luz e plumas,
Sobre a flor sem pétalas
E a esperança morta,
Teu canto é chama,
Chamado e brado,
Teu canto é trado
Furando escuros.
Ensinou-te o tempo
Pelo tempo a fora
Que toda noite
Tem uma aurora.
Que todo pranto
Vai regar o riso.
Ensinou-te a vida
Pela vida a fora
Que em toda treva
Há um esperar de luz,
Que em toda semente morta
Há sempre um tronco
A renascer no chão.
Por isso cantas
E teu canto explode
Sobre a flor sem pétalas
E o riso decepado,
As pústulas sangrentas,
Os pulmões brocados,
Sobre a fome e a lama.
Teu canto é chama
Queimando trevas.
Osório Peixoto Silva
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