quarta-feira, março 30, 2005


fire

1 comentário:

Anónimo disse...

Nos becos bêbados
A fé sem rumo,
No tronco trêmulo,
Sem sombra e prumo,
Findou-se o fruto.
O fogo inútil
Perdeu a chama.

No estrado cama
O amor foi fúria
Porque desespero.
No quarto abrigo
O calor amigo
fugiu nas frestas.

Só tu, cantor em festa,
Cantas o dia, mesmo sendo escuro,
A rubra crista é leme erguido
Buscando sempre o nascente
Em fogo.

Em teu capote de luz e plumas,
Sobre a flor sem pétalas
E a esperança morta,
Teu canto é chama,
Chamado e brado,
Teu canto é trado
Furando escuros.

Ensinou-te o tempo
Pelo tempo a fora
Que toda noite
Tem uma aurora.
Que todo pranto
Vai regar o riso.

Ensinou-te a vida
Pela vida a fora
Que em toda treva
Há um esperar de luz,
Que em toda semente morta
Há sempre um tronco
A renascer no chão.

Por isso cantas
E teu canto explode
Sobre a flor sem pétalas
E o riso decepado,
As pústulas sangrentas,
Os pulmões brocados,
Sobre a fome e a lama.
Teu canto é chama
Queimando trevas.

Osório Peixoto Silva