Gostava
tanto de mexer na vida,
De
ser quem sou – mas de poder tocar-lhe...
E
não há forma: cada vez perdida
Mais
a destreza de saber pegar-lhe.
Viver
em casa como toda a gente
Não
ter juízo nos meus livros – mas
Chegar
ao fim do mês sempre com as
Despesas
pagas religiosamente.
Não
ter receio de seguir pequenas
E
convidá-las para me pôr nelas –
À
minha Torre ebúrnea abrir janelas,
Numa
palavra, e não fazer mais cenas.
Ter
força um dia pra quebrar as roscas
Desta
engrenagem que emperrando vai.
–
Não mandar telegramas ao meu Pai,
–
Não andar por Paris, como ando, às moscas.
Levantar-me
e sair – não precisar
De
hora e meia antes de vir p'rà rua.
–
Pôr termo a isto de viver na lua,
–
Perder a frousse das correntes de ar.
Não
estar sempre a bulir, a quebrar coisas
Por
casa dos amigos que frequento –
Não
me embrenhar por histórias duvidosas
Que
em fantasia apenas argumento
Que
tudo em mim é fantasia alada,
Um
crime ou bem que nunca se comete:
E
sempre o Oiro em chumbo se derrete
Por meu Azar ou minha Zoina suada...
Mário de Sá-Carneiro
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