segunda-feira, novembro 27, 2006

O Homem em Eclipse


Ora foi que certo dia
o homem eclipsou-se
a data digam a data
a datazinha faz favor
qual data foi por decreto
que a gente se eclipsou
foi só manobra espertice
um dois três e pronto é noite
que nem a lua apareça
seja de que lado for
Uns seguraram-se logo
eram espertos bem se viu
outros cairam ao mar
com cabeça pernas e tudo
quanto a mim perdi a calma
fiquei desaparafusado
tradição cultura estilo
certeza amigos fatiota
tudo fora do seu sítio
um desaparafuso terrível

Segurem-me camaradas
sinto pernas a boiar
cheiro fantasmas enxofre
estou aqui mas posso voar
o parafuso da língua
vai partido vai saltar
agarrem-me! agarra!
pronto
pari o mais leve que o ar


Mário Cesariny

1 comentário:

Anónimo disse...

As bombas matam porque sofrem duma espécie de doença incurável/
que as faz ganhar saúde quando as largam no ar/
uma vez expostas à lei da gravidade
e por ela arrastadas para o mundo humano/
as bombas precisam explodir tal como uma criança precisa de urinar/
até fazerem um lugar onde fiquem
que não se mova que seja
como um direito a isso
ao pé do deus adulto que lhes deu comida/