sábado, março 11, 2006


steeple

1 comentário:

Anónimo disse...

Lorca

Onde está a minha Lua?
Onde estão os campos roxos de tojos primaveris, de cores dançando ao vento seco de Este?
Porque estás mui lejos, amor mio.
Com que direito apareces em imagem fria e seca de Buñuel, numa onda sonora estonteante que perfura a carne com a eficácia dum cutelo de açougue. Bar de estudantes, sem tertúlias ou outros movimentos suspeitos. Para que se beba cerveja até cair e me lembre da manhã sem pequeno-almoço, quando te segurei nos meus braços e senti o todo da tua pele a envolver-me. Um ligeiro zumbido nos ouvidos e uma náusea interna, a lembrar os melhores dias físicos das entranhas.
Pedras frias, arcos em tijolo, passagens para outro lado.
Onde está a minha Lua?
Onde está o meu tanto querer?
Por entre as giestas frias de Inverno; na toca profunda de javali; num mar de palavras lavradas em terrenos incultos.
Um ocultar de um segredo, de um sorriso esporádico que os lábios esboçam. Quartos repletos de livros nas paredes, de um colorido baço, algo reluzente às trevas do pensamento, às sombras que nasciam nas janelas, nos cedros do jardim. Beijos doces, de sabor a mel de cana do açúcar.
Quentes são as gotas de chuva que me beijam o corpo nesta madrugada tão fria, neste momento tão negro.
Onde está a minha Lua?