Às vezes a imaginação caminha na neblina
Descalça, tacteia o chão
Tropeça nos degraus do esquecimento
Cautelosamente aprecia o anonimato
Divorcia-se de todas as referências
Aspira a uma sublimação minimalista
Perde-se na vastidão do silêncio
Apenas encontra cinzenta abstracção
Excita-se na presença da monotonia
Grita por um tédio mundano
Os olhos bebem a escuridão
Testemunha a nudez das palavras
Sorri para folhas em branco
Festeja o vazio das pampas
Dança na invisível turbulência do ar
Anseia pelo vácuo sideral
Desfruta do supremo prazer do nada
M.Daedalus
8 comentários:
Nada duas vezes
Duas vezes nada acontece
Nem acontecerá. E assim sendo,
Nascemos sem prática
E sem rotina vamos morrendo.
Nesta escola que é o mundo,
Mesmo os piores
Nunca repetirão
Nenhum Inverno, nenhum Verão.
Os dias não podem ser repetidos,
Não há duas noites iguais,
Não há dois beijos parecidos,
Não se troca o mesmo olhar.
Ontem, o meu nome
Em voz alta pronunciado
Foi como se uma rosa
Me tivessem atirado.
Hoje, ao teu lado,
Voltei a cara para a parede.
Rosa? O que é uma rosa?
Será flor? Talvez rocha?
Porque tu, ó má hora,
Me trazes a vã tristeza?
Se és, tens de passar.
Passarás – e daí a tua beleza.
Abraçados, enlevados,
Tentaremos vencer a mágoa,
Mesmo sendo diferentes
Como duas gotas de água.
Wisława Szimborska Chamada para Yeti (1957)
O nome correcto é Wislawa Szymborska.
os caracteres são da lingua mãe.
Então parece que tens que aprender melhor polaco meu caro...
para terminar este diálogo estéril, ver Alguns Gostam de poesia das Edições Cavalo de Ferro, bilingue e escrito por quem não percebe nada de polaco.
Diálogo estéril soa um pouco a provocação vindo de alguém que se esconde atras de um anónimato...enfim...
Onde quer que esteja
Onde quer que esteja, em qualquer lugar
Na Terra, escondo dos outros a certeza de
Que n ã o s o u d a q u i.
Como se tivesse sido enviado para absorver
O máximo de cores, sons, cheiros, sabores,
Provar de tudo o que é
Reservado ao Homem, converter o vivido
Num registo mágico e levá-lo para lá, de onde
Parti.
Czesław Miłosz Isto (2000)
Lindo...
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