sexta-feira, dezembro 16, 2005

Também Este Crepúsculo

Também este crepúsculo nós perdemos.
Ninguém nos viu hoje à tarde de mãos dadas
enquanto a noite azul caía sobre o mundo.

Olhei a minha janela
a festa do poente nas encostas ao longe.

Às vezes como uma moeda
acendia-se um pedaço de sol nas minhas mãos.

Eu recordava-te com a alma apertada
por essa tristeza que só tu me conheces.

Onde estavas então?
Entre que gente?
Dizendo que palavras?
E porque vem até mim todo o amor de repente
quando me sinto triste, e te sinto tão longe?
Caiu o livro em que sempre escolhíamos ao crepúsculo
e como um cão ferido encostou-se a minha capa aos pés.

Sempre, sempre te afastas pela tarde
para onde o crepúsculo corre apagando as estátuas.

Pablo Neruda

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