A noite, que tu trazes, nunca é escura
nem vem para esconder qualquer pecado.
É outra luz do dia que perdura
quando já posto o sol te tenho ao lado.
Renasce então em nós como a aurora
essa loucura, que ficou assinalada
numa cama que é o berço nessa hora
de um amor que desafia a madrugada
E nus, em frente ao espelho, de manhã,
essa imagem de um só corpo somos nós
ligados por um beijo até amanhã
quando, uma vez mais, estivermos sós
Depois da despedida e do abraço,
da partida apressada para o mundo,
resta desse amor um leve traço
que ligou as nossas vidas num segundo.
E ficamos a esperar o dia inteiro,
separados um do outro pela vida,
que a noite volte cedo e traga o cheiro
desse encontro que é sempre uma despedida
E, afinal, desses momentos que gozámos,
desses corpos que se amaram por inteiro
desse fruto que juntos devorámos,
num amor febril como o primeiro
Fica o que de vida foi semente
como tantas que desperdiçámos antes:
uma nódoa num lençol ainda quente
a lembrar que ali estiveram dois amantes.
Fernando Tavares Rodrigues
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