quinta-feira, outubro 27, 2005

O Risco da Lucidez

Ando vivendo, não raro,
momentos de uma clareza absurda.
Estes momentos, é claro,
chegam num lapso, um espaço pequeno,
mínimo, entre o calar e estar muda.
São momentos de uma lucidez extrema,
de uma clareza tamanha,
e como num poema da Clarice,
também me pergunto o que se ganha,
e penso, como ela mesma disse,
que não sei de que me adianta
tanta clareza de realidade,
tanto enxergar o nada,
tanta compreensão do que é verdade.
Ver claro é um risco, uma cilada,
mais fácil é entender a irrealidade
do que a realidade da estrada.
A visão clara abre espaço para o nada,
abre-nos a visão daquilo que é,
fecha a porta do que pensávamos ser.
Ver claro muitas vezes turva a fé
tão cega que pensávamos ter.
Fico, por assim dizer,
no limbo entre o que é e o vir a ser.
Um intervalo milimetricamente pequeno
entre o que sou e o que penso ser.
Perigosa clareza, arriscada lucidez
que impele a sair da acomodação
de viver numa espécie de viuvez
da minha cômoda resignação
de viver no irreal confortável,
de desistir da cegueira de então,
e persistir no imperscrutável.
Insistir na visão do intervalo
pequeníssimo, mas ostensivo,
entre o calado e o que falo,
entre o que sonho e o que vivo.
Como usar tanta lucidez
em meio a tanto (pre)conceito,
em meio à geral estupidez?
Que Deus (ou a Vida) me permitam existir,
persistir e consistir,
no claro e no obscuro,
no estar e no porvir,
na luz ou na sombra escura,
e de mim mesma me rir.

Débora Cristina Denadai

4 comentários:

Anónimo disse...

Sofia,também eu,tal como tu,fico na dúvida,por vezes,se o melhor para unir será a verdade e é isso que quero dizer no meu poema,que aqui te deixo HIP

Em silêncio,reparei em ti,
Tentando captar o teu olhar,
Perscrutar o teu pensamento,
Mas confesso que nada vi...
Sempre nulo o meu intento!
Teu subconsciente analisar queria,
Mas isso...seria uma utopia!...
Saber em que estás a pensar,
Quando me olhas ternamente...
Se me amas verdadeiramente,
Loucamente!
Ou se é só a brincar!
Fixo o teu olhar profundo,
E nada vejo...como é enigmático!
Queria dissecar a tua mente,
Ver o teu coração,o teu mundo,
Porque tudo se torna problemático..
Saber o que fazes,quando ausente!
E sabes porquê...
O quê das minhas interrogações?
Porque vivo na incerteza,
Da certeza de me amares...
Não entendo as tuas emoções!
Ora és ardente,apaixonada,
Vibrante,carente,amante...
Para logo me abandonares,
E rires,folgares e dançares,
E abandonada...te entregares!
Como o amor é complicado!...
Mas...é bom ter a quem amar!
E não ficar só,abandonado...
Haver alguém,para podermos perdoar!

Aeval disse...

HIP
Com esse poema resumiste praticamente a minha vida...
Beijos

Anónimo disse...

AEVAL:
Pois é,eu cá me parecia,mas...

HIP

Anónimo disse...

TO AQUI FEITO UMA BOBA , TODA CHEIA DE VER MEU TEXTO NESSE BLOG LINDOOOO...
BJO E OBRIGADA PELO CARINHO
D