sexta-feira, julho 22, 2005

Tabacaria

(...)
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
(...)

Álvaro de Campos

1 comentário:

Anónimo disse...

Imortalidade

Demitir-se é a palavra,
vingança não tem lugar tão perto dela
Não posso achar conforto neste mundo

Lágrima artificial,
vaso apunhalado,o próximo,
voluntários?
Vulnerável, sabedoria não pode aderir

Um ocioso acha um lar
e um sonho para ter
Mas há uma armadilha no sol, imortalidade

Tão privilegiado quanto uma prostituta,
vítimas em demanda para espetáculo público
Varrido para fora pelas rachas em baixo da porta

Mais santo que tu, como?
Rendido, executado de qualquer maneira
Rabisco dissolvido, caixa de cigarros no chão

Um ocioso acha lar e um sonho para ter
Mas há uma armadilha no sol
Imortalidade

Eu não posso parar o pensamento,
Estou correndo na escuridão
Surgindo uma seta de direção
Todos os ociosos bons têm que decidir

Despojado e vendido, mãe, antebraço leiloado
E espanadores na pia
Ociosos mudam,
não conseguem parar por muito tempo
Alguns morrem apenas para viver


por Eddie Vedder