A poesia corrompe os dedos que escrevem.
Caem dos braços, como frutos podres,
e infectam a terra branca do amanhecer.
Leio o verso interrompido pela doença.
Reconstituo o final do poema,
a evocação do corpo com febre;
e abraço a mulher pálida que o poema oculta.
«Amo-te», digo-lhe.
Ela despe-se na obscuridade da memória,
deixando atrás de si uma sombra de antigos lençóis.
A luz do meio-dia, ouço, apagou essa imagem;
e revela o vermelho dos lábios
de onde escorre o riso límpido do amor.
- Tarde em que as janelas batem;
e um vento interrompe a conversas dos amantes;
e o mar se despe de agosto com as marés vivas
que o hábito ignora.
Nuno Júdice
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