sexta-feira, março 18, 2005

Distúrbio

Gosto de ti quando estás longe.
No silêncio da reflexão.
Apenas na lembrança, gosto de ti.
Como se morto estiveste.
Como se todas as tardes guardassem as súplicas da oração das seis e
os segredos do arco-íris após a chuva.
Gosto de ti atrás desta muralha cega. Embriagada. Pálida. Intransponível.
Piloto apressada a telepatia para que entendas rápido. Para sempre.
Não quero sombra de chegança a vagar por minha expectativa.
Não quero ninhos.
Não traga nunca, nas mãos, a felicidade.
Não sei recebê-la.
Desnecessário olhar para o espelho e constatar que tenho a alma deserta
e que não sei dividir nem o canto das cigarras.
Gosto da tua voz distante. Da saudade do querer.
Não gosto de querer.
Gosto de ti ausente. Partindo sempre. Da tua mala arrumada.
Da chave jogada na mesa. Do semblante de quem perde.
Do cabelo desgrenhado. Do soco que dás no ar. Do chute que dás na porta.
Da mudez após o grito.
Gosto do teu sofrer. Das tuas lágrimas. Da tua eterna pretensão em me querer.
De mim, nem gosto.Suporto porque não tenho aonde ir.
Mas de ti...
Gosto.
Cláudia Villela de Andrade

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