Terei esquecido o ritual, ou simplesmente deixei de ter o teu olhar?
Terei perdido a garra das pontas dos meus dedos,
Ou ter-me-ão adormecido as forças no medo de te magoar, ou a mim?...
Não sei... não entendo... mas continua a ser um fogo tremendo
O que me queima a garganta e o pranto que vem do fundo do peito.
Procuro recordar no que rasgo de mim, o teu jeito,
Procuro esquecer o tempo que me doi e não consigo apagar
Esventro o pensamento e só sei que gostava de amar como tu,
Sem redes nem cabos, nem amarras, nem sonhos, nem portas, nem... !
Sem sorrisos colados nos sorrisos de ninguém!
Sem olhares ensalivados nos odores das salivas perpetuados
Nas memórias guardadas do passado e do além...
Como eu gostava de saber andar de costas
E esquecer dos sentidos que florescem na pele que é minha
E tua, também!
Como eu gostava...
Vestia de alma guerreira e fazia as orações do amanhecer da guerra
Partia depois nas asas da certeza e da indiferença,
Atravessava o estreito que se formou tão fundo no fundo do meu peito
E, num golpe de misericórdia e de imensa glória,
Arrancava-te do pedaço mais ínfimo que em mim mora!
E, à luz dos teus nobres feitos, atirava-te de mim para fora!
A seguir, num leve e desinteressado encolher de ombros,
Esquecia o som das palavras, atravessava, escondida, por entre os escombros
E apagava de mim o que de ti pudesse ser memória
E renascia!
Como eu gostava de amar como tu!
Cristina Fidalgo
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